Canoas é homenageada no segmento nacional de reciclagem

Canoas é homenageada no segmento nacional de reciclagem

Reverter o cenário histórico do aterro sanitário no Distrito Industrial Jorge Lanner foi um desafio arrastado por mais de duas décadas em Canoas, no Rio Grande do Sul. Há poucos meses, no entanto, o amontoado de rejeitos acumulado no local passou a dar lugar a uma nova paisagem: um maquinário, que vai ocupar um espaço de quase 60 metros de comprimento e transformar o que era tratado como lixo em renda para o município, começa a tomar forma. Por essa iniciativa, com ponto de partida em 2019, é que Canoas recebeu homenagem no setor de reciclagem, concedida pela Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon) no dia 15 de agosto, em São Paulo.

O reconhecimento foi feito no Seminário Nacional da Abrecon ao prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato – o idealizador do projeto que visa terminar com o descarte irregular de resíduos no município por meio da reciclagem de resíduos da construção civil (RCC), do reaproveitamento máximo de todos os tipos de recicláveis, da fiscalização e da educação ambiental. “Espero que esse seja o primeiro de muitos prêmios para esse projeto que não tem só uma missão econômica e ambiental, mas um papel social importante com a geração de empregos, novas oportunidades e com a criação de uma nova cultura na cidade. Queremos que as próximas gerações vejam o descarte ilegal como algo do passado”, afirmou Busato.

Canoas é umas das exceções ao investir no mercado de resíduos

Os critérios da homenagem são claros, mas têm um peso ainda maior, considerando o contexto nacional. Ao criar a primeira Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil (RCC) do Estado gaúcho, Canoas pegou a contramão da maior parte dos municípios brasileiros, que têm resistido à ideia de introduzir o agregado reciclado nas tabelas de insumos e serviços das prefeituras. O principal gargalo do mercado de resíduos é justamente esse: as dificuldades de venda dos produtos às administrações públicas.

Enquanto representantes de muitas regiões travam uma batalha para reduzir esses entraves e buscam a criação de leis que obriguem os municípios a comprar o agregado, Canoas faz o caminho inverso, e abre espontaneamente as portas para que toda a produção de sua usina de reciclagem seja reaproveitada em obras da cidade. Por experiência da própria SBR Reciclagem – empresa licitada para construir a usina –, sabe-se que a reutilização do material beneficiado é de, em média, 90% – número significativo demais para não ser levado em conta pelas gestões públicas, mas ainda ignorado por boa parte delas, segundo informações apresentadas por pesquisas setoriais da Abrecon.

Além dos benefícios à limpeza urbana e à preservação ambiental, a implantação da Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil em Canoas, que será a maior do Brasil, também representa economia para os cofres públicos, considerando que a estrutura terá condições de reciclar todo o RCC gerado no município, processando cerca de 15 mil toneladas de caliça por mês e convertendo o que poderia não ter mais serventia em insumos como pedras, areia e brita. “Mesmo não operando de forma integral ainda, pois muitos equipamentos estão sendo fabricados, a usina já está destinando matéria-prima para obras como pavimentação, cascalhamento, drenagens, calçamentos e cascalhamento de vias não pavimentadas”, contou o prefeito Busato.

A meta é o Lixo Zero

A usina ainda vai contar com a separação de diversos tipos de materiais, como madeira, ferro, plástico e papelão. A partir dessa triagem, os resíduos até então inutilizados retornarão para a indústria, e todo o valor da comercialização desses produtos será revertido para o Município. “Além de darmos fim ao acúmulo de rejeitos, vamos trabalhar sempre atrás de mais alternativas para ter o máximo reaproveitamento dos resíduos recicláveis”, projetou o prefeito.

A gestão de resíduos que será aplicada em Canoas é inspirada no modelo bem-sucedido da cidade de Jundiaí, onde a SBR mudou drasticamente a realidade ambiental da região. Antes da chegada da empresa, o município paulista contava com 1.037 pontos de descarte irregular de lixo, que foram reduzidos a pouco mais de 30 com o trabalho de reciclagem de RCC.

Limpeza urbana é dever de todos

Desde 2017 a Prefeitura de Canoas realiza semanalmente Mutirões de Limpeza, que agora ganham um reforço de peso com o reaproveitamento de tudo o que é coletado pelas ruas. E para facilitar a destinação correta desses materiais, foram criados 20 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), onde qualquer pessoa pode depositar, sem custo algum, resíduos como sobras de reformas ou obras de até 2 m³.

Já os Ecopontos, distribuídos por todos os quadrantes de Canoas, seguem recebendo materiais como papel, plástico, metais e papelão, e estão sendo administrados pela própria SBR. A estrutura agora também conta com oito fiscais, que se deslocam em motocicletas e percorrem cerca de 30 km por dia cada para combater o descarte irregular de lixo na cidade.